Pegando a onda da novela “Nos Tempos do Imperador”, que data de 1856. Pensei num texto que abordasse as danças espanholas, investigando se havia ou não nessa época e quais tipos poderiam existir em nosso território. Resolvi pesquisar a década de 50 do século XIX.
Em um Folhetim[1] de 1858 trazia: “Na Hespanha urge o pandero e a guitarra cujas toadas as andaluzas vaporosas se desfazem no poético e nacional bolero[2], e na cachucha aonde deixam quase, quase ver a perna. Oh! Uma perna andaluza!”
A Cachucha continuava a ser a queridinha dos nossos teatros também, em 1851 apresentaram o baile Paquita, com Cachucha, Fandango e Boleros; “intimamente associados a danças espanholas” [3], ora apresentada como engraçada ou linda, “nessa década foi dançado no Brasil por: Maria Baderna, Leonor Orsat; Thereza Mazanti, Sra D. Ricciolini, Sra Petit; Sra Carolina, Sra Ponzoni e Therezinha no Cyrco Olympico em um “costume de bella andaluza”, acompanhando o compasso da música com castanholas.
Nos navios também faziam ensaios, oportunizando certamente quem não sabia, a aprender novas danças e cantigas na viagem, afinal em adventos da globalização não há como fugir da transculturação. “A Companhia Dançante talvez a essa hora navegue em águas brasileiras, e mesmo a bordo ensaie uma cachucha para estrear!”
Mas só se dançava cachucha? O que mais tinha por aqui das Danças Espanholas?
Nesse período podia-se comprar para pianos boleros, seguidillas, tiranas e canções andaluzas. Adquirir em loja de instrumentos musicais castanholas de marfim e ébano. Em uma festa com apresentações de quadrilhas, foram citadas “cocadas” castanholas feitas de cascas de coco.
Tivemos apresentações nos teatros de Tonadilhas Hespanhola (1850), a zarzuela o Duende[4] com coplas de seguidillas, a Maja de Sevilla ou El contrabandista[5], que foi dançado, Jaleo de Cigana, cachucha, "zapateado", gavotas, machengas[6],sarambeque; jotas remoinhavão, La Madrilena, La Linda Gitana[7] e cumbes[8]. E certamente, há muito mais que não encontrei registrados nos periódicos.
Interessante destacar os bailes negros (levantados nessa pesquisa, e que apareceram nos periódicos), que já vinham da Espanha com influências Africanas como Cumbé; Afro Americana Cachucha, El Dengue, Fandango.
Não podemos deixar de fora a passagem de Carlos Atené, “bailarino distineto [13], que foi primeiro diretor e primeiro bailarino nos principais teatros de Madri, Valença e Barcelona; e temos a vista jornais hespanhois que nos habilita a recomendar o Sr. Atané, e sua filha, como artistas, [...] o publico da Capital do Império já deu bem espressivas demonstrações de agrado e prazer pelo trabalho do Sr. Atané e sua filha”.
“A Senhorita Araceli Atané, é pensionista de S. M. a Rainha da
Hespanha, que se achão contractados dansarão um bailado hespanhol, intitulado La
Rumbosa[9] e El Torero
com capa; Jácara, boleiros: La
Fantasia [10]e
El Dengue[11][12]".
O Senhor Carlos Atané foi professor de danças no Brasil, além das danças espanholas daquele contexto ensinava, habaneza, valsa, polka, mazurka, bal polka, schotich, vasorviana e poloneza.
Em meados do século XVIII e XIX, alguns autores classificam esse período de pré-flamenco.
É importante lembrar que desde a chagada da família Real no Brasil, as danças espanholas já circulavam, principalmente no Rio de Janeiro, a primeira pré-flamenca brasileira a dançar uma “dança espanhola” em nosso território tinha 12 anos e bailou no teatro a Cachucha nos anos 20 do século XIX, (30 anos antes) mas aí, já é assunto para um próximo capítulo.
Bibliografia:
Imagem:Arthur Saint-Léon et Marie Guy-dans un Zapateado, 1850,Escuela Bolera - La scuola classica spagnola
di Marina Keet de Grut, Presidente della Spanish Dance Society per l’Europa.https://www.youtube.com/watch?v=r3A3cvF_DY4
www.juntadeandalucia.es (Escola Bolera).
[1] Correio Paulistano, 1958.
[2] Boleiros, igual a bolero. Danças da Escola Bolera século XVIII e XIX da Espanha.
[3] O Correio da Tarde, 1951.
[5] En el XIX, suben a las tablas el polo de El contrabandista, el ole, el jaleo de Jerez, la cachucha, la rondeña, la malagueña y el torero, las seguidillas mollares, el vito, los panaderos y las peteneras, todos andaluces., Fantasía española
[6] Seguidillas Manchegas
[7] La linda gitana - Final do sec. XIX escola bolera
[8]Bailes Negros.
[9] La rumbosa sec.XIX escola bolera.
[10] Final do sec. XIX escola bolera.
[11] Bailes Negros.
[12] Jornal Brasil Commercial, 1956.
[13] Há aqui um erro gramatical que preferimos manter, assim como estava no texto original do Jornal.