quarta-feira, 14 de abril de 2021

Carmencita - Carmen Dauset Moreno no Recife [ II ]


 

                                                  

Imagem O Besouro, 1902. (PE) 


 Logo que a trupe da Carmencita saiu do Recife em 1902, o jornal "Berliner Tageblatt", de 26 de Julho da mesma data, publicou que ela havido morrido de febre amarela, na miséria. Mas no mês seguinte, "O Jornal do Recife" de 17 de Agosto de 1902, desmente a informação.

Eis a notícia: 

"Berliner Tageblatt", de 26 de Julho de 1902.

“No Rio de Janeiro morreu a conhecida dançarina Carmecita e a notícia de sua morte seguiu-se a outra, deter, outr’ora tão fallada e admirada artista, terminado a sua vida na miséria. Carmencita era uma das dançarinas que executam danças que só na Hespanha esse sabe dançar. A mantilha, o véu de rendas, que adornam ricamente a cabeça de toda hespanhola, o leque também, em Carmencita desempenharam um papel importante; não somente seus pés, todo seu corpo dançava, e nisso ella mostrava uma graça de movimentos em que era inexcedível. Carmencita fez “furor” em toda parte onde exhibiu e se tornou celebre não somente por causa de sua arte, como também, e talvez mais ainda, por suas aventuras.

Dellas, autores parisienses têm publicado muitos capítulos nas folhas dos Boulevards, porém a história interessante desvariétés certamente há de ser escripta ainda e há de ser um livro sobrecarregado de episódios picantes, porque Carmencita pode se orgulhar de que também pretendentes a corôas empenharam-se para obter a sua amizade. Suas relações com o príncipe ricasso ainda estão na memória de todos. A diva possuía um adereço de cujo valor e riqueza se contam cousas fabulosas.

Desde alguns annos começou a escurecer a estrella, de felicidade de Carmencita.

Ella deixou- se arrastar por especulações arriscadas, atravessou o mundo novo e o velho como emprezaria d’ uma companhia propria, e n’isto perdeu a sua fortuna grande; enfim completamente empobrecida tambem tornou-se physicamente doente.

A  febre amarella pôz termo á sua vida agitada, longe de sua Pátria a Hespanha.”


Em seguida e com furor, reporta-se  "O Jornal do Recife" de 17 de Agosto de 1902: 

Damos abaixo uma notícia que Lemos no Berliner Tageblatt, de 26 de Julho, a respeito da Bela Carmencita que aqui esteve recentemente fazendo parte da companhia Lyrica de que era empresário o senhor Gustavo Campos. Deixando de parte os elogios feitos para a dançarina, podemos afirmar que a sua morte é um Canard. “La Bella Carmencita está atualmente na Bahia. 

 

“Vivinha da Silva”, Carmencita realmente causou furor no Recife, teve suas aventuras, dançou vestida de homem, foi presenteada com uma canção e até esteve atuando em plena epidemia de peste bubônica.

De maio a início de junho 1902 está no Theatro Santa Isabel, O Diário de Pernambuco anuncia a Grande Companhia Lyrica de Zarzuellas, os grandes bailados hispânicos, mas o separa no anúncio em dois grupos, os lyricos, orquestras e a zarzulelas que na estréia apresentou a La Marcha de Cadiz;  em sete de maio.

No Jornal do Recife, havia uma crítica dizendo não ser uma "artista hors ligne e exagera algumas vezes, o que, aliás, seria próprio do theatro hespanhol", segundo o crítico, “mas é de convir que tinha boa voz e estava destinada a formar partido, tendo jus a aplausos estrepitosos”.

 Em 31 de maio do mesmo jornal:

“A Senhora Carmencita, finalmente, dançou de modo a merecer aplausos, esquecendo os exageros que lhe são tão comuns e tanto a prejudica”.

O Jornal "A Província" , também anuncia a Grande Companhia Lyrica de Zarzuellas, os grandes bailados hispânicos, este era um jornal que fazia críticas muito detalhadas dos espetáculos, e no dia 20 de maio, noticia que "A bella Carmencita baila com um lindo traje de toureiro."

O Jornal "O Besouro" de 1902, não poupou críticas a companhia em Recife, pedindo informações de alguém no Rio de Janeiro sobre a Companhia e lhe foi respondido que:

 “A principal figura da Companhia é Carmencita artista de grande meio em cancionetas e incomparável maxixeira, gosta de cenas de ciúmes e no fim do ano passado próximo, quase era assassinada por seu amante, um engraxador, que a mimoseou com um tiro” (que não acertou!). 

Reclamavam, "O Besouro", que o espetáculo era de má qualidade, pelo ingresso que se pagava; que Carmencita fazia bem o que lhe competia: os maxixes e as cançonetas, mas que havia um casal que só sabia dançar sevilhanas e nada mais. E ainda afirmava que Carmencita foi expulsa da Comapanhia Lyrica por questões de “cheretas e guryzadas”.

Durante sua estada em Recife, foi escrita uma valsa saltitante com nome de Carmencita pelo professor Benecdito Santos, para essa atriz.

Depois de oito anos em 1910, retorna ao Recife (chegada do Norte), o Pequeno Jornal de Pernambuco anuncia que no Cine Theatro Helvetica, “a graciosa Dançarina hespanhola”. Em 01 de outubro e 08 novembro de 1910, ela apresentou Marcha Andaluza, El Aragonez, Soleares, Castanhitas, Duo Los Patos e o Maxixe. Analisando os jornais desse período, constatou-se que nas suas atuações ela havia cantado mais do que dançado solos, como era de costume e quando dançava tinha um par que se chamava Liverti Sandrey.

A revista "Vamos La" do Rio de Janeiro de 1947, trouxe uma reportagem sobre recordações do Recife antigo, Mario Sette que tinha 16 anos na época, escreveu sobre o "Theatro Santa Isabel", das zarzuelas, operetas e de uma espanhola “salerosa” que virou a cabeça de muitos homens endinheirados, da época: A bela Carmencita". 

Disse ainda, Sette que "Por vezes os teatros ficavam vazios, e o maestro com a batuta fazia “que deserto”. Benefícios palpitantes de entusiasmo como de Carmencita contrastaram com essas vazantes, em parte explicáveis, com a epidemia de peste bubônica a flagelar os recifenses. “E um dia a Companhia Lyrica de Zarzuelas de Gustavo Campos embarcou para outros destinos”.

 

Obs.: Caso queira retirar algo deste blog, por gentileza mencione o endereço e a pesquisadora  Professora Alessanda  Gutierrez Gomes. Gracias!


Matéria que desmente a morte de Carmencita.

Pequeno Jornal (PE), 1902

Província, (PE) 1910, Baila a Marcha Andaluza e Maxixe.



Obs.: Caso queira retirar informações deste blog, por gentileza cite e referencie a pesquisadora deste lindo trabalho: Alessandra Gutierrez Gomes.



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