Maruja Natal e a “Boneca Luminosa”
Em 1940[1] veio para o "Cine Rex" em Florianópolis (imagem acima) , acompanhada do tenor Fernad Rosel, Maruja Natal . Os jornais falavam do incrível sapateado de Maruja, uma graciosa estrela espanhola, cujo alto de sua apresentação era a “Boneca Luminosa”, onde a dançaria surgia no palco com dezenas de lâmpadas elétricas ornamentando seu corpo.
Porém a crítica de um jornal da cidade não foi nada graciosa...
Rosel e Maruja Natal - A extréa
no “REX” dos dois “consagrados” artistas foi aquella desgraça...
Emfim, tanta coisa bonita se disse que nos levou a recordar a extréa no theatro
"Dona Amelia" da maior dentre as maiores bailarinas, Pastora Império a quem os estudantes de Lisboa ébrios de
enthusiasmo, terminado o espectaculo, desatrelaram os cavallos de caleche que a
deveria conduzir ao hotel para, agarrados a lança uns, e fazendo das
capas tirantes, outro arrastarem carro até ao "Franciort".
cujo-fio-conductor, atravessando
o palco, mais parecia um cabo de amarrar navios, tirando, assim todo o effeito.
"Eu sou um "quebrado”...
Entretanto tenho ainda no bolso ou'nhentos mil réis para dar dama que
queira vestir este vestido sob a pressão de 4.500 volts`s!
Nesta altura o mundo foi abaixo...
Assobios, gargalhadas, bater de cadeiras, um inferno...
Ouvindo falar em 4.500 volts, muito embora todos soubessem que a força
em Florianópolis não vai além de 200,
preferiram abandonar a sala de espectaculos, deixando-os ás moscas a ver Maruja
electrocutada...
O que se passou deve servir de exemplo. E' sempre perigoso elogiar,
antes de ver para crer como São Thomé...”
A Noticia
(SC) 27 de Abril de 1940.
Não contente com as críticas feitas ao espetáculo Rosel enviou uma carta ao jornal nos seguintes termos:
Carta aberta, dirigida ao Sr Mimoso
Ruiz, diretor da surcursal de “A notícia de Joinville, em Florianópolis, em
resposta ao artigo publicado nesse de 27-4-1940.
“Senhor diretor. Oh! Ironia. E V.S. se chama “Mimoso” quando na
realidade é “monstruoso”, Monstruoso por abusar da digna profissão de jornalista
para difamar indignamente um casal de artistas patrícios que procuram
honradamente ganhar o pão a de seu filhinho, que amanhã irá defender a nossa Pátria.
Quando vejo indivíduo de sua classe, sem coração, sem entranhas, sem sentimento
humano, que, por prazer de fazer o mal, escreve um artigo tão violento inventando
e insultando grosseiramente uma família, fechando para as mesmas as
possibilidades de trabalho em todo o Estado, sem preocupar-se das dificuldades
que já atravessam os artistas na nossa Pátria, duvido que esse carrasco
seja Brasileiro e se por acaso fôsse...
me daria vontade de naturalizar Chinês ou Turco...
Lendo sua “critica” pouco elegante, cheguei a esta conclusão: que o “ilustre”
sr. “Mimoso” não assistiu sequer ao espetáculo do Rex ou, então, estava sob
qualquer INFLUENCIA que o tirava da realidade, visto que o senhor cita a Maruja
Natal “tocando castanholas sem ritmo”...; e (coisa curiosa!) Maruja, todos os
espectadores sabem, NÃO TOCOU CASTANHOLAS, o que prova que o senhor “Mimoso”
não estava no Rex ou sе encontrava no mundo da lua....
Desejo muitas venturas a V. S.
ROSEL
E veio a
resposta do Senhor Mimoso, no dia primeiro de maio:
De “chansonier” francez,
transmudou-se em “canconetista” Brasileiro
FPOLIS, 30-O
sr. Hosel, que se annunciára aos quatro ventos como "chansonier” francez,
em "Carta Aberta" por intermedio de "O Estado" refuta a
nossa chronica, declarando-se, preliminarmente, cançonetista brasileiro.
Basta que
houvéssemos visto Maruja Natal e Rosel, porque tendo-os visto cessou tudo
quanto a musa cantou, porque outro poder mais alto se levantou...
Mas,
deixemo-vos de ironia vamos falar sério.
Precisamente
porque Florianópolis é uma cidade culta; precisamente porque não é habitada por
"pelles-vermelhas", é que os empresários deveriam ter mais respeito
pelo publico e os artistas o equilíbrio necessário para só se exhibirem em
logares que estejam dentro das suas possibilidades.
Ainda não sei dizer, se houve resposta ou as trocas pelos jornais continuaram, não encontrei mais nada, mas ao ler todas essas informações, achei que o crítico pegou pesado com Rosel, continuei rastreando a Maruja, e fiquei curiosa em saber também sobre o Tenor, que me parecia tão gentil e educado.
Em 1952 a Associação Brasileira de Imprensa estava realizando um festival com o Fernad Rosel e a Maruja Natal. Eles se apresentaram também em Niterói no Teatro Municipal João Caetano, bailarina do Clássico Espanhol. Depois não encontrei mais informações sobre ela, e muito menos da "Boneca Luminosa".
Já o Rosel...
Nos anos 30 ele colocou um anúncio no Jornal dizendo que estava recrutando moças para um coro. Trabalhou com Guillermo Galindo, Bertha Noronha, Pierina Leguti.
Em 1938 no Paraná, a troupe de Rosel apresentava um espetáculo com um artista que se chamava “Marconi Hindu”, o Rei das Luzes, que apresentava a "Boneca Luminosa", mas também não encontrei, até o momento algo sobre Marconi Hindu. Teria se apropriado Rosel da Boneca luminosa e estreado em Florianópolis em 1940?
O Jornal Pequeno (PE) em 1948 anunciava que Fernad Rosel o “Artista Francês” esteve em Rio Grande do Norte, o “Tenor brasileiro, esteve também em Paramaribo; No Pará, anunciaram que esteve no Peru, Buenos Aires, Canada e EUA.
No “Maranhão em 1949, publicou o jornal o “Artista Cubano”, “ludibriou”, “maior abacaxi que nos deram para descascar”.
Depois do ocorrido em Florianópolis Rosel ainda voltou à cidade em 1958 e 1961, mas agora sem críticas nos jornais. E nos anos 70 ainda veio cantar em um recital no Rio de janeiro. Esse moço devia ter muitas histórias para contar!
[1] Temos como referência nos jornais de Maruja Natal 1937 no Jornal do Comércio Rio de Janeiro, numa companhia de Teatro de Revista como bailarina hespanhola, no Diário da Noite desse mesmo ano o jornal critica a “ voz inteiramente anasalada, vae mal cantando”. Em 1938 estava no Teatro Rival.
Imagem do cinema Rex foi retirado do blog, que vale dar uma espiadinha que conta sobre os cinemas de Florianópolis.
http://floripendio.blogspot.com/2010/06/cinemas-de-rua-de-florianopolis.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário