Suraya Helayel e a bailarina Patrícia Gerent que faz a Carmen inspirada em Rita Hayworth (um dos filmes inspiradores para Suraya) no espetáculo “Todas Somos Carmem”.
Quando conhecemos a história das Divas Bailoras brasileiras, compreendemos a construção do Flamenco no Brasil. Suas influências, etapas, estéticas; as escolas, dando uma visão mais concreta dessa arte dentro do nosso território.
Esse texto foi construído a partir de informações cedidas pela Suraya, em março de 2021, e tem como objetivo mais pessoas conhecerem sua trajetória artística dentro da História do Flamenco no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro e Santa Catarina. A sua importante participação na divulgação dessa arte, dessa cultura, através de sua docência e espetáculos, sua estética e poética, seus mestres e onde atuou. Aqui trazemos algumas informações, como diz Suraya "há tantas coisas, são tantos anos,que algumas ficarão de fora".
Suraya Helayel Maia nasceu em sete de Abril de 1945 em Niterói, Rio de Janeiro, filha de pai libanês mãe brasileira. Em 2006 muda-se para Florianópolis, Santa Catarina; o primeiro lugar que ministrou aulas foi numa academia no bairro do Itacorubi a Bailare, por três anos, dava aulas também em Joinville e, a princípio, a cada 15 dias visitava a cidade, posteriormente mudou-se para lá e ficou por um ano no Espaço Compás Y Arte, de Adriana Alves, que era professora de Flamenco e também sua aluna, fizeram muitas parcerias e trabalhos juntas. Fruto da parceria há o show Compás Y Arte, Fuerza Gitana Ida Y Vuelta (esse sobre o poeta que amava o flamenco chamado João Cabral Melo Neto, apresentado no Teatro Juarez Machado).
Nesse intervalo de tempo, regressou ao Rio de Janeiro, apresentando-se com as alunas no Teatro Municipal de Niterói, voltando para Florianópolis somente em 2013. Em sua volta à ilha faz aulas com a Marília Cartell e Lela Martorano.
Em seguida, em 2017, é convidada para ministrar aulas de Danças Espanholas e Castanholas no Studio Ale Gutierrez e com esse grupo participa de diversas ações e espetáculos como coreógrafa, no espetáculo “A Frida que Habita em Mim[1]” um espetáculo que conta a história da pintora mexicana Frida Kahalo no Teatro Álvaro de Carvalho participa como bailarina e coreógrafa.
Paso Doble de Frida , Festival de Dança do ENCAD, Foto: Desconhecido
Nesse mesmo ano, 2018, foi premiada com a coreografia “Paso Doble de Frida” coreografada em conjunto com Ale Gutierrez no Festival de Dança do ENCAD no Teatro Pedro Ivo em Florianópolis.
[1] https://studio.youtube.com/video/eigdSrNh1ys/edit
https://studio.youtube.com/video/5g0K7K3yZvU/edit
Paso Doble de Frida , Festival de Dança do ENCAD, Foto: Desconhecido
Escreveu o texto do espetáculo e coreografou algumas danças de “Todas Somos Carmem” no teatro da Ubro, em 2019, sendo esse espetáculo uma homenagem do Studio Ale Gutierrez pelo reconhecimento da trajetória e arte da própria Suraya .
Apresentou com as alunas a coreografia de Clássico Espanhol “Granada” no Festival Premio Desterro, Danças Populares no Shopping Beira Mar.
Participou como bailarina e coreógrafa em 2019, dos Espetáculos Beneficentes “Olhos da Alma”, “Outubro Rosa” e do espetáculo do Studio Ale Gutierrez “O Aviador no Planeta de Cascaes” no Teatro Álvaro de Carvalho.
Granada, “O Aviador no Planeta de Cascaes”, Foto: Rafael Gerent
Em 2020 faz a voz off, que encerra o espetáculo beneficente “Mulheres em Movimento” em prol a Delegacia de Mulheres de Florianópolis no Teatro do CIC onde as alunas do Studio encerram o espetáculo com uma performance de “Todas Somos Carmem” .
Na live “De Paseo por Sevilla”- La Feria de Abril - promovido pela UFFS, APEE, Associação de Professores de Espanhol de Santa Catarina, em Abril 2021 participou com convidada falando sobre o baile sevillanas.
Com a "trégua" da pandemia e a vinda das vacinas , em agosto de 2021, volta ás aulas presenciais no Studio, e participa como bailarina e coreógrafa do espetáculo HEWAZ, do Studio Ale Gutierrez no Teatro Casa Armação em Florianópolis.
Foto 1 Guajiras , 2021 Fotografia: Rafael Gerent
É importante registrar que Suraya Helayel Maia ministrou aulas e esteve vinculada ao Studio Ale Gutierrez em Florianópolis, por cinco anos, ensinando, bailando, tocando suas castanholas, mesmo estando na casa dos seus setenta e poucos anos; preenchendo o espaço com muita sensualidade, vitalidade, elegância e “ímpeto” como pedia para trazer aos nossos movimentos.
Sua História na Dança
Aos cinco anos de idade inicia o curso de balé clássico com grandes bailarinas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro: Sandra Dieckens, Nilcéa de las Casas; com a atriz Betty Faria no Clube Monte Líbano, Madeleine Rosey em Niterói. Se apresentando desde então em teatros. Conclui o curso de balé aos 13 anos na Academia de Dança Leda Iuque (Copacabana).
Ballet Clássico , 5 anos, Fotografia de acervo Suraya Helayel Maia
Começou na Dança Espanhola com castanholas aos 13 anos; 1958, na mesma escola onde fez o Ballet Clássico, segundo ela : “surgiu uma espanhola dando aula Dina De Aragon”[2], depois desse encontro, Suraya,estudou durante três anos. Segundo Suraya, não se ouvia falar em Flamenco nessa época, somente Dança Espanhola com Castanholas. Houve um intervalo até chegar ao flamenco em sua trajetória.
Dança Espanhola, 19 anos, Fotografia de acervo Suraya Helayel Maia
Após ter vivido de 1977 a 1982, em Teresópolis (RJ) onde aprende jazz e dança moderna por dois anos; volta em 1982 para a cidade de Niterói e em 1984 uma amiga, Delfina, que fazia flamenco com um professor português que dava aula em Botafogo Arnaldo Triana, a convidou para fazer aulas a amiga se apresentava com ele, o conhecido grupo Jóias de Madri, logo Suraya fez aulas e passou a se apresentar (1985); “conheceu o flamenco através dele”. Arnaldo Triana ensinava tangos, alegrias, sevillanas e rumbas naquela época.
[2] Dina de Aragon aparece como professora de Danças espanholas na Academia de Artes Plínio Senna em 1957, jornal do Sports (RJ) e Academia Leda Iuqui, Correio da Manhã (RJ) em 1959.
Suraya foi integrante do Grupo Los Romeros de Mabel Martin e Alberto Turina do Rio de Janeiro. Conheceu a Mabel Martin e o Alberto Turina em 1986, ainda não eram da Casa de Espanha. Eles se apresentavam no Bateau Mouche, e Suraya tinha apenas dois meses de aulas, Mabel dava aulas em Copacabana no Studio Leda Iuqui, onde ela começou quando tinha 13 anos a dança espanhola. Segundo Suraya “Eu queria muito me apresentar, a turma era cheia e eu ficava lá no fundo e pensava, ela nunca vai me ver aqui, como ela vai me chamar pra dançar? Mas ela me viu e me chamou!” Dançou no Bateau Mouche todas as danças, jotas, sevillanas,alegrias, tangos, muñeras se apresentavam em vários lugares, cidades.
Entra para a dança flamenca na Casa D'España do Rio de Janeiro, na Casa de Espanha aprendeu danças Regionais da Espanha, La jotas de várias províncias da Espanha, Dança Espanhola, tinham a escola bolera e flamenca. Na Casa de Espanha havia mais variedade de palos flamenco, todos os figurinos eram feitos la .
Mabel Martin e Alberto Turina eram com os grandes mestres, Alberto Turina era completo, guitarrista, bailaor, coreógrafo.
Com eles se apresentou em vários espetáculos no Rio de Janeiro e em São Paulo: Teatro Municipal de Niterói, Paço Imperial no Rio, MASP, entre outros.
Em 1986 participa do show "Romancero Gitano", de Garcia Lorca, como bailarina da Casa
D'España “meu irmão Gibran Helayel,
tocou guitarra flamenca com Alberto nesse espetáculo, ele é musico e na época
tocava flamenco” aprendeu a guitarra flamenca com Turina, hoje é regente do
Coral do Instituto Cervantes só com musicas espanholas.
No MASP apresentaram-se com a Ana Esmeralda, Suraya dançou Danças Espanholas e Sevillanas. “Mabel deu um show e ele, Turina,dançou com a Ana Esmeralda e com Nino de Brener, cantando”.
Estava com eles há uns cinco anos, quando Mabel sugeriu que a Suraya desse aula numa academia em Niterói.
Estruturas de aulas, agora é uma maestra:
Em 1992 começa a dar aula de flamenco no Studio Juliana Yanakiewa, em Niterói e monta um grupo de dança, Luna Llena. No começo ensinava tangos, soleares, aula com bracejos, sapateado simples, rumbas, coisas mais simples, porque estava começando; todo o ano havia apresentação da academia, dava aulas e ao mesmo tempo estudava com a Mabel. Mesmo estando como professora fazia reciclagem na casa de Espanha com os professores Mabel e Alberto e também whorkshops, mas era bem difícil ter.
Suraya não gostava das danças regionais, ela participava do Grupo da Casa de Espanha e dançava, “elas faziam o maior sucesso com o publico as jotas, muiñeras, fandangos”; mas não ensinava. Seguiu ensinando rumbas, tangos, tanguillos,fandangos,solea, solea por bulerias, seguirijas, bulerias, palo seco basicamente, as árias mais importantes da Ópera Carmen e Dança Espanhola como Malagueña, Granada,etc.
Nas suas aulas utilizava musica mecânica com fitas cassetes era difícil levar guitarrista para Niterói, e eram poucos, e a música mecânica facilitava as apresentações nos variados espaços, “as aulas com Turina eram com guitarra, mas a maioria das vezes com música mecânica também. Todos os lugares num modo geral”.
Desde que começou a dar aulas em Niterói em 1992 não parou mais, seu grupo Luna Llena, era muito conhecido, dançam em muitos lugares, eventos beneficente ou com cachê, em restaurantes, hotéis, bares, praças publicas, casamentos, não semente em teatros “nós não parávamos”.
Em 1993 dá aula na cidade de Maricá, (RJ) e ganha o segundo lugar no IV Festival Gonçalense de Dança, com a coreografia "Carmen - Habanera" de Georges Bizet.
Participa do Arte Espanha Rio, como coreógrafa e bailarina. (1996 a 1998).
Abre sua academia em Niterói em 1999 “Luna Llena Danças”. Onde inclui as mais diversas modalidades de dança: dança de salão e tango com os professores Solange Dantas e Fernando Brasil, (ambos atualmente atuando), Dança do ventre com a Lili Califfa e Aminah al Abdallah (esta, atualmente dando aulas), Dança Cigana com Arilce Xavier, atualmente em plena atividade, além de Dança Indiana, balé clássico para adultos e hip-hop.
Luna LLena RJ, Fotografia do acervo de Suraya Helayel Maia
Participava do Festival Arte Espanha Rio de Tereza Maximo com dança espanhola e flamenca; como atriz, bailarina e coreógrafa, participou da montagem da peça teatral "A Linguagem das Flores", na AABB de Niterói em 2003.
O nome que foi do Grupo e da Escola foi inspirado numa música de Caetano Veloso, Tomada de Lluna llena. A escola Luna Llena Danças foi da Suraya de 1999 a 2004, por cinco anos no bairro Icaraí, Niterói no Rio de Janeiro, mesmo vendendo a escola para outra professora, continuou dando aulas la.
“Havia poucos professores em Niterói naquela época, o Ricardo Samel, Marcos Taglieri, e outra que não recordo”.
A Era Gades, Paco e Saura
Quando Suraya começa no flamenco em meados dos anos 80 e segue com professora nos anos 90 e olhamos os periódicos dessa época, existem alguns nomes que se destacavam nos jornais e revistas nessas décadas que era Paco de Lucia, Antonio Gades e Carlos Saura, Suraya relata como foi o contato com esses artistas e a influencia em sua prática docente no flamenco.
“Ao chegar à escola da Juliana Yenakeva (1992) perguntei se haviam fitas cassetes para emprestar, se tinham músicas, pois ela não tinha o material; Juliana falou que os professores teriam que ter suas próprias fitas cassetes” foi onde o seu marido na época comprou o disco do Paco de Lucia, que o usou como trilha para suas aulas. Lembrou também da febre dos Gypsy Kings, “todos os grupos de danças ciganas e flamencas faziam muitas coreografias, fiz várias, eram animadas e lindas”.
“Quando assisti Carmen de Carlos Saura eu fiquei muito impactada, fascinada, eu vi os três, a trilogia, todas influenciaram alguns passos nas minhas coreografias que foram inspirados no filme, não gosto de copiar é um detalhe ou outro que agente coloca, porque da onde vamos tirar os passos? Realmente influenciaram muito a minha maneira de ver o flamenco. Sempre recomendo até hoje que as alunas assistam a trilogia, principalmente Carmen.”
Embora gostasse muito de Antônio Gades e era inspirador, não conseguiu assistir o espetáculo dele, mas assistiu Joaquim Cortez, Antônio Canales com Merche Esmeralda, Eva Yerbabuena.
Luna LLena RJ, Fotografia do acervo de Suraya Helayel Maia
Quando perguntado se ensinou passos que aprendeu com seus maestros aos seus alunos respondeu; “ainda faço passos que aprendi com os professores, e o flamenco é uma dança que tem passos muito parecidos, quase todo as coreografias de soleares, alegrias, por exemplo, tem passos iguais, não da pra inventar passos que não tem nada a ver com flamenco, uma mão, um trejeito,até vai , diferente do Israel Galvan, que esta fazendo coisas novíssimas, não gosto do que ele faz, ele é muito exótico dançou dentro do caixão; mas eu gosto dele, da história dele.”
“Trago até hoje de tudo que aprendi, os movimentos , passos, não são idênticos, não tem como fugir do que você aprendeu tudo segue um método, uma certeza de ter aprendido até aqui, sempre trago coisas da Mabel e do Alberto, dos whorkshps, usei algo do Adrian Galia[1] e do filme Carmen”.
Uma mulher como poucas! Escritora, bailarina, bailaora uma artista brasileira que ainda constrói ativamente a história do flamenco no nosso país.
[1] Fez Whorkshop do Adrian Galia 1996 e fui assistir a um show dele mais tarde com a Isabel Soares em Curitiba.
[2] https://studioalegutierrez.blogspot.com/2021/05/historia-da-danca-espanhola-em.html
Foi professor de Danças Espanholas de Thelma Elita, nascida em Florianópolis, no Rio de Janeiro.
Periódicos:
Jornal o Fluminense, edição 37498,2005.
Jornal o Fluminense, edição 36731,2003.
Obs.: Caso queira retirar informações deste blog, por gentileza cite e referencie a pesquisadora deste lindo trabalho: Alessandra Gutierrez Gomes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário